420 Ancestral – Povos e civilizações que cultuavam a Canábis antigamente
Uma Viagem no Tempo com a Erva Sagrada | Celebrando o 420 com a Kaya.
No dia 20 de abril, celebramos o 420 , uma data icónica que homenageia a cannabis e todas as suas dimensões: medicinais, espirituais, culturais e até mesmo recreativas. Mas você sabia que a história da cannabis remonta a milhares de anos antes de ser associada à cultura moderna ou aos estigmas contemporâneos? A cannabis não é apenas uma planta; ela é um símbolo de ancestralidade, resistência e conexão humana com o natural.
Neste artigo exclusivo para o Dia do 420 , vamos explorar em detalhe a rica história da cannabis ao longo dos séculos, desde os primeiros registros na China antiga até os movimentos contemporâneos que celebram sua legalização e uso consciente. Prepare-se para uma viagem fascinante pela ancestralidade da cannabis, repleta de curiosidades históricas e significados profundos.
10.000 – 4.000 a.C. | China Antiga: O Berço da Cultura da Canábis
A canábis tem raízes profundas na história humana, sendo cultivada pela primeira vez há cerca de 10.000 anos no noroeste da China. Os povos ancestrais utilizavam-na principalmente pelas suas fibras resistentes , ideais para a produção de cordames, tecidos e redes de pesca. Além disso, as sementes de cânhamo eram consumidas como alimento nutritivo, ricas em proteínas e gorduras essenciais.
Por volta de 2737 a.C. , o imperador Shen Neng, considerado o pai da medicina tradicional chinesa, registou o uso da cannabis como tratamento para diversas condições, incluindo dores, reumatismo, gota e malária. Este foi o primeiro registo médico conhecido da planta, marcando o início de sua utilização terapêutica. A cannabis também era integrada em rituais espirituais, simbolizando harmonia entre o homem e a natureza.
Na região que hoje abrange a Mongólia e partes da Eurásia, arqueólogos descobriram restos de cannabis em túmulos antigos, datados de aproximadamente 2.500 a.C. Surpreendentemente, as amostras continham altos níveis de THC (tetra-hidrocanabinol), indicando que a planta era usada por xamãs em cerimónias sagradas.
Os xamãs acreditavam que queimar cannabis em braseiros durante rituais ajudava a induzir estados alterados de consciência, permitindo comunicação com espíritos e acesso a dimensões superiores de sabedoria. Esta prática solidificou a cannabis como uma “erva sagrada” nos primórdios da espiritualidade humana.
Por volta de 2737 a.C. , o imperador Shen Neng, considerado o pai da medicina tradicional chinesa, registou o uso da cannabis como tratamento para diversas condições, incluindo dores, reumatismo, gota e malária. Este foi o primeiro registo médico conhecido da planta, marcando o início de sua utilização terapêutica. A cannabis também era integrada em rituais espirituais, simbolizando harmonia entre o homem e a natureza.
Na Índia antiga, a cannabis surge nos textos sagrados Vedas como “ganjika”, uma oferenda divina associada ao deus Shiva . Considerada um presente dos deuses, a planta era consumida em forma de bhang , uma bebida preparada com leite, ervas e cannabis triturada. Durante festivais religiosos como o Holi e o Maha Shivaratri , o bhang era utilizado para elevar a consciência espiritual e conectar os devotos ao divino.
Além de seu papel espiritual, a cannabis também desempenhava um papel crucial na medicina ayurvédica , sendo usada para tratar problemas digestivos, dores crónicas e distúrbios mentais. Sua presença na cultura indiana perdurou por milénios, influenciando práticas modernas como o yoga e a meditação.
A cannabis chegou à África por meio de rotas comerciais árabes, sendo rapidamente adotada por diversos povos, incluindo os Khoisan , Zulus e Sotho . Entre os Sotho, a planta era usada em rituais de parto e cerimónias tribais, enquanto outros grupos a incorporaram às suas práticas de cura e espiritualidade.
Os africanos foram pioneiros no desenvolvimento de métodos para fumar a cannabis. Eles criaram dispositivos rudimentares utilizando cabaças com água, que serviram como precursoras dos bongs modernos . Este avanço tecnológico demonstra a criatividade e engenhosidade dessas culturas ao explorar novas formas de consumo da planta.
No Egito antigo, a cannabis era mencionada no Papiro de Ebers (aproximadamente 1550 a.C.) como tratamento para inflamações, dores e outras condições médicas. Os egípcios também usavam a planta para fabricar cordames e tecidos, demonstrando sua versatilidade.
Na Grécia e Roma antigas, estudiosos como Plínio, o Velho , e Dioscórides documentaram o uso da cannabis como analgésico e anti-inflamatório. Estes registos destacam como a planta era amplamente reconhecida por suas propriedades terapêuticas em diferentes partes do mundo clássico.
Séculos XIII–XV | Mundo Islâmico: O Haxixe e os Sufis
Durante os séculos XIII a XV, o mundo islâmico passou por intensas transformações políticas, sociais e culturais. A queda do Califado Abássida em 1258 marcou o início de um período de fragmentação política, com o surgimento de dinastias regionais como os mamelucos no Egito e Síria, os mongóis na Mesopotâmia e Irã, e os impérios berberes no Norte da África. Apesar dessas mudanças e instabilidades, as cidades medievais floresceram como centros vibrantes de cultura, comércio e espiritualidade.
Nesse contexto, o uso do haxixe ganhou destaque no mundo islâmico, especialmente em regiões como Pérsia, Egito e Síria. Derivado do árabe “ḥashīsh”, que significa literalmente “erva seca”, o termo refere-se à resina concentrada da cannabis, consumida principalmente de forma fumada ou ingerida. O haxixe tornou-se uma presença marcante tanto nos ambientes populares quanto nos círculos místicos, sendo associado a práticas espirituais profundamente enraizadas na cultura islâmica.
O Sufismo e o Uso do Haxixe
O sufismo, corrente mística do Islã, buscava a experiência direta do divino por meio de práticas como meditação, música, dança e, em certos contextos, o uso de substâncias alteradoras de consciência. Algumas ordens sufis, sobretudo aquelas vinculadas a confrarias urbanas e marginais, adotaram o haxixe como ferramenta para atingir estados de êxtase, contemplação e dissolução do ego — elementos essenciais para a aproximação do sagrado.
Para esses grupos, o consumo de haxixe era visto como um meio de transcendência espiritual, permitindo que seus praticantes alcançassem níveis elevados de conexão com o divino. No entanto, essa prática era cercada de controvérsias. Muitos juristas e teólogos islâmicos consideravam o uso do haxixe uma prática desviada ou ilícita, argumentando que contrariava os princípios religiosos e morais do Islã.
Haxixe e Vida Urbana
Além de seu papel no sufismo, o haxixe também estava profundamente integrado à vida urbana das grandes cidades medievais, como Bagdá, Cairo e Damasco. Nesses centros urbanos, mercados, cafés e confrarias sufis eram espaços de sociabilidade e experimentação cultural, onde o consumo de haxixe era comum entre diferentes camadas da população. Entre os trabalhadores urbanos e marginais, o haxixe era apreciado por suas propriedades relaxantes e recreativas, oferecendo um refúgio momentâneo das dificuldades da vida cotidiana.
Simbolismo Cultural e Espiritual
No contexto político fragmentado dos séculos XIII a XV, o haxixe tornou-se mais do que uma substância consumida por suas propriedades psicoativas; ele simbolizava a busca espiritual e a resistência cultural. Para os sufis, representava um caminho para a transcendência e a comunhão com o divino. Para as populações urbanas, era uma forma de enfrentamento às adversidades e celebração da vida em meio à diversidade religiosa e cultural do mundo islâmico medieval.
Dessa maneira, o haxixe não apenas refletiu as transformações sociais e espirituais do período, mas também se firmou como um elemento central na história cultural do Islã, marcando a interseção entre tradição, misticismo e inovação.
A história da cannabis no Brasil está profundamente enraizada na diáspora africana e nas práticas culturais trazidas pelos escravizados durante o período colonial. A planta, conhecida como diamba , desembarcou no Brasil a partir do século XVI, introduzida por africanos que esconderam suas sementes em bonecas de pano ou amarradas às tangas, conforme registros históricos. Essa herança africana não apenas preservou o uso da cannabis, mas também a transformou em um símbolo de resistência e identidade cultural.
A Diamba no Brasil Colonial
No Brasil colonial, a diamba rapidamente se tornou parte das práticas espirituais e medicinais das comunidades negras e indígenas. Entre os escravizados, a cannabis era consumida para aliviar o sofrimento físico e emocional causado pela brutalidade da escravidão. Além disso, ela desempenhava um papel central nos rituais religiosos, especialmente nos cultos afro-brasileiros como o Candomblé e a Umbanda , onde era utilizada para conectar os praticantes ao divino e acessar estados alterados de consciência.
A planta também ficou conhecida pelo nome popular de “pito de pango” , uma referência aos cachimbos artesanais fabricados com cabaças ou outros materiais naturais. Esses instrumentos eram usados para fumar a cannabis e simbolizavam a criatividade e adaptabilidade das comunidades marginalizadas, que mantiveram viva a tradição do uso da planta mesmo sob condições adversas. O “pito de pango” tornou-se um ícone cultural, representando tanto a resistência quanto a conexão ancestral com as tradições africanas.
A Cannabis na África e sua Disseminação
Na África, a cannabis já era amplamente utilizada antes de sua chegada ao Brasil. Conhecida por nomes como bangue ou diamba , a planta era valorizada por suas propriedades medicinais, espirituais e recreativas. Garcia da Orta, em 1563, descreveu os efeitos da cannabis em um diálogo fascinante, destacando seu uso tanto para fins terapêuticos (como alívio de dores e insônia) quanto para experiências de euforia e descontração.
Os africanos também associavam a cannabis à espiritualidade, utilizando-a em rituais para alcançar estados de êxtase e conexão com o divino. Para muitos, a planta era um bálsamo para a saudade da terra natal e um lenitivo para as crueldades da escravidão. Essas práticas foram trazidas para o Brasil e integradas às culturas locais, criando uma fusão única entre as tradições africanas e indígenas.
O Cultivo Incentivado pela Coroa Portuguesa
Curiosamente, durante o século XVIII, a Coroa Portuguesa incentivou o cultivo da cannabis no Brasil, mas com objetivos completamente diferentes. Em 1785, o Vice-Rei enviou sacas de sementes de maconha para a Capitania de São Paulo, visando o uso das fibras de cânhamo na produção de cordames e tecidos para abastecer a economia colonial. No entanto, esse incentivo oficial contrastava com o uso popular da planta, que permanecia restrito às camadas mais pobres da sociedade.
A Criminalização e Perseguição
Apesar de sua importância cultural e medicinal, o uso não-médico da cannabis começou a ser visto como uma ameaça no final do século XIX e início do XX. Influenciada por pressões internacionais, como a participação brasileira na II Conferência Internacional do Ópio em 1924, o governo brasileiro passou a adotar políticas repressivas contra a planta. Em 1938, o cultivo e o uso da cannabis foram totalmente proibidos no país, marcando o início de décadas de perseguição legal e social.
Essas políticas tiveram um impacto devastador, especialmente sobre populações negras e pobres. Milhares de jovens foram encarcerados por posse de pequenas quantidades da planta, perpetuando ciclos de exclusão e violência. Apenas em 2024 , após anos de luta por justiça social e reconhecimento científico, a cannabis foi descriminalizada no Brasil, marcando o fim de uma era de injustiças e abrindo caminho para um futuro mais inclusivo.
Atualmente …
Em 2025, o Brasil vive um momento de transição regulatória para a cannabis. O uso medicinal está consolidado e em constante expansão, enquanto o cultivo industrial de cânhamo foi autorizado judicialmente, embora ainda aguarde normas específicas para sua implementação. O uso recreativo permanece proibido, e o cultivo individual segue vetado. O cenário atual é de expectativa por regulamentações mais modernas e inclusivas, tanto no Congresso quanto na Anvisa, marcando uma mudança significativa em relação às políticas proibicionistas das décadas anteriores.
Esses avanços representam um passo importante para reparar injustiças históricas, promover o bem-estar da população e integrar o Brasil ao movimento global de reconhecimento do potencial medicinal, cultural e econômico da cannabis.
O rastafarianismo surgiu na Jamaica na década de 1930 como um movimento religioso, político e cultural de resistência negra. Inspirado pelas ideias do ativista pan-africanista Marcus Garvey e pela coroação de Haile Selassie I como imperador da Etiópia em 1930, o movimento rapidamente se consolidou como uma força espiritual e social que buscava reafirmar a dignidade e a identidade negra em um contexto marcado pela opressão colonial e racial.
Para os rastafáris, Haile Selassie I era visto como a encarnação de Jah (Deus) e o Messias Negro, simbolizando a libertação e a conexão com as raízes africanas. Nesse contexto, a cannabis — conhecida no patois jamaicano como kaya , ganja ou erva da sabedoria — tornou-se um elemento central na prática espiritual e cultural do movimento.
Kaya: A Erva Sagrada dos Rastafáris
No rastafarianismo, a cannabis não é apenas uma planta; ela é considerada sagrada e desempenha um papel essencial nas cerimônias espirituais chamadas reasonings . Essas reuniões são momentos de comunhão onde os rastas se reúnem para discutir temas filosóficos, espirituais e sociais, cantar, tocar tambores e buscar uma conexão direta com Jah. Durante essas cerimônias, a kaya é consumida como um sacramento , uma ferramenta para purificação, meditação e elevação espiritual.
Os rastafáris acreditam que a cannabis ajuda a abrir a mente para receber mensagens divinas e promove uma maior compreensão das escrituras bíblicas. A prática também está profundamente ligada à herança africana, remetendo às tradições espirituais e medicinais trazidas pelos ancestrais escravizados. Assim, o uso ritualístico da kaya é tanto um ato de resistência contra a opressão colonial quanto uma forma de reafirmação da identidade e da cultura negra.
Simbolismo e Significado Cultural
A cannabis é muito mais do que uma substância psicoativa no contexto rastafári. Ela representa:
Resistência e Libertação: Para os rastas, o uso da kaya é um símbolo de resistência contra as leis e normas impostas pelo sistema colonial e pelo Estado. A planta é vista como uma forma de liberdade espiritual e política.
Conexão com Jah: Acredita-se que a cannabis facilita a comunicação direta com Jah, permitindo que os praticantes alcancem estados superiores de consciência e entendimento espiritual.
Cura e Sabedoria: A kaya é frequentemente referida como a “erva da cura” ou a “erva da sabedoria”, sendo usada tanto para fins medicinais quanto para promover reflexão e introspecção.
Identidade Africana: O uso da cannabis está enraizado nas tradições espirituais africanas, reforçando a conexão dos rastafáris com suas raízes culturais e ancestrais.
Perseguição e Resistência
Desde seu início, o rastafarianismo e o uso ritualístico da cannabis foram alvos de forte repressão policial e social na Jamaica. As autoridades britânicas coloniais viam o movimento como uma ameaça à ordem estabelecida, e muitos rastafáris foram perseguidos, presos e marginalizados, especialmente nas décadas de 1950 e 1960. A criminalização da cannabis foi usada como uma ferramenta para silenciar e deslegitimar o movimento.
Apesar da perseguição, o rastafarianismo continuou a crescer, ganhando força como uma voz poderosa de resistência e orgulho negro. Um marco simbólico para o movimento foi a visita de Haile Selassie I à Jamaica em 1966, que trouxe reconhecimento internacional e ajudou a diminuir parte do estigma associado ao rastafarianismo e ao uso da cannabis. No entanto, a marginalização persistiu por décadas, refletindo os preconceitos raciais e sociais enfrentados pelos seguidores do movimento.
Hoje: Redescobrindo a Sabedoria Ancestral
Nos últimos anos, a ciência moderna começou a confirmar o que civilizações antigas já sabiam: a cannabis possui propriedades medicinais poderosas e benefícios terapêuticos variados. Com o avanço das pesquisas sobre o sistema endocanabinoide , a planta ressurge como ferramenta valiosa para tratamentos de saúde mental, dor crónica, epilepsia e muito mais.
Movimentos como a Kaya buscam resgatar essa sabedoria ancestral, promovendo o uso responsável da cannabis dentro da legalidade europeia (THC < 0,2% ) e incentivando a educação sobre seus múltiplos usos. A cannabis não é apenas uma planta; ela é memória viva, cultura, espiritualidade e resistência.
Por Que Honramos a Ancestralidade da Cannabis?
Na Kaya, cada produto carrega a herança de milhares de anos de conexão entre humanos e planta. Trabalhamos com cânhamo industrial de alta qualidade, respeitando regulamentações e promovendo bem-estar, redução de danos e reconexão com o que é essencial. A cannabis não é uma moda passageira; ela é parte integrante da nossa história coletiva.
Ao entender e honrar o legado ancestral da cannabis, podemos construir um futuro mais consciente, inclusivo e sustentável. Que este artigo sirva como convite para refletirmos sobre a importância dessa planta sagrada em nossas vidas e na evolução da humanidade.
Celebrando o 420 com Consciência e Respeito
O Dia do 420 é mais do que uma celebração; é uma oportunidade para reconhecer a riqueza cultural, espiritual e medicinal da cannabis. Ao celebrarmos esta data, lembramos que a cannabis é muito mais do que uma planta: ela é memória, é medicina, é cultura, é espiritualidade, é resistência.
Seja você um entusiasta da cannabis, um curioso ou alguém que busca compreender melhor o seu impacto na sociedade, convidamos você a explorar este legado ancestral e a contribuir para um futuro onde a cannabis seja valorizada pelo seu potencial transformador.
Celebre o 420 com responsabilidade e consciência. Afinal, a cannabis é parte da nossa história, e do nosso futuro.