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Tailândia: O Retrocesso na Legalização da Cannabis Recreativa
A Tailândia, que em junho de 2022 se tornou o primeiro país do Sudeste Asiático a descriminalizar a cannabis, está agora a caminhar para um retrocesso significativo na sua política. O que foi inicialmente saudado como um passo ousado e progressista, impulsionando o turismo e a agricultura, enfrenta agora uma reviravolta, com o governo tailandês a planear proibir novamente o uso recreativo da planta. Esta matéria explora os motivos por trás desta mudança, o cronograma previsto e as implicações para o país e para a indústria global da cannabis.
Da Descriminalização à Re-criminalização: Uma Breve Cronologia
Em 9 de junho de 2022, a Tailândia removeu a cannabis da sua lista de narcóticos, permitindo o cultivo doméstico e a venda de produtos de cannabis com baixo teor de THC (tetrahidrocanabinol). Esta medida visava principalmente promover o uso medicinal e impulsionar a economia agrícola do país. A descriminalização levou a um boom de dispensários, cafés e negócios relacionados com a cannabis, atraindo turistas e gerando um novo setor económico.
No entanto, a falta de regulamentação clara para o uso recreativo resultou em preocupações crescentes por parte das autoridades e da população. Relatos de uso indevido em espaços públicos, problemas de saúde pública e o aumento de tentativas de contrabando contribuíram para a pressão sobre o governo para rever a sua política.
Em maio de 2024, o primeiro-ministro Srettha Thavisin sinalizou a intenção do governo de reverter a descriminalização do uso recreativo, afirmando que a cannabis deveria ser restrita apenas para fins medicinais e de pesquisa. Esta posição foi reforçada por declarações de vários ministros e pela apresentação de um novo projeto de lei.
Os Motivos por Trás do Retrocesso
Diversos fatores contribuíram para a decisão do governo tailandês de re-criminalizar o uso recreativo da cannabis:
•Preocupações com a Saúde Pública: A ausência de regulamentação clara para o uso recreativo levou a um aumento de casos de uso indevido, especialmente entre jovens, e a preocupações com os impactos na saúde mental e física da população. Hospitais e clínicas relataram um aumento de pacientes com problemas relacionados ao consumo excessivo de cannabis.
•Ordem Pública e Turismo: O governo expressou preocupação com a imagem do país como um destino de “turismo da cannabis”, temendo que isso pudesse atrair um tipo de turismo indesejado e afetar a reputação da Tailândia como um destino familiar e cultural. O uso em espaços públicos, embora tecnicamente proibido, tornou-se comum, gerando queixas.
•Contrabando e Mercado Negro: A descriminalização, sem um controlo rigoroso, abriu portas para o aumento do contrabando de cannabis e o florescimento de um mercado negro, dificultando o controlo da qualidade e da origem dos produtos.
•Pressão Política e Social: Houve uma crescente pressão de grupos conservadores e de setores da sociedade que se opunham à descriminalização, argumentando que os benefícios económicos não superavam os riscos sociais e de saúde.
•Foco no Uso Medicinal: O governo reitera que o objetivo inicial da descriminalização era o uso medicinal e de pesquisa, e que a expansão para o uso recreativo foi um desvio não intencional que precisa ser corrigido.
O Cronograma do Retrocesso (Junho de 2025)
As informações mais recentes, datadas de 25 de junho de 2025, indicam que o governo tailandês está a avançar rapidamente com os planos para re-criminalizar o uso recreativo da cannabis. Um projeto de lei foi assinado e prevê que a proibição do uso recreativo entre em vigor em 11 de novembro de 2025. Isso significa que, a partir dessa data, a cannabis será novamente restrita apenas para fins medicinais e de pesquisa, e os estabelecimentos que vendiam cannabis para uso adulto deverão fechar.
Esta decisão representa uma reviravolta significativa para a indústria da cannabis na Tailândia, que se expandiu rapidamente nos últimos três anos. Mais de 1,1 milhões de tailandeses registaram-se para obter licenças de cultivo, e surgiram mais de 6.000 dispensários e negócios relacionados.
Implicações para a Tailândia e a Indústria Global
O retrocesso na Tailândia terá várias implicações:
•Para a Indústria Local: Muitos negócios que investiram na indústria da cannabis recreativa enfrentarão desafios significativos, com a necessidade de se adaptar ao novo cenário ou fechar as portas. Haverá um impacto económico considerável para os agricultores e empresários que dependiam deste setor.
•Para o Turismo: Embora o governo espere que a proibição do uso recreativo melhore a imagem do país, pode haver uma diminuição no número de turistas que visitavam a Tailândia especificamente pelo acesso à cannabis.
•Para a Saúde Pública: A re-criminalização pode levar o uso recreativo de volta à clandestinidade, dificultando o controlo de qualidade e a monitorização dos impactos na saúde.
•Para a Indústria Global da Cannabis: A Tailândia serviu como um estudo de caso para outros países asiáticos que consideravam a legalização. Este retrocesso pode influenciar negativamente a progressão da legalização da cannabis na região, reforçando a cautela e as restrições.
Conclusão
O caso da Tailândia é um lembrete complexo de que a legalização da cannabis é um processo dinâmico e que pode enfrentar desafios e retrocessos. A experiência tailandesa destaca a importância de uma regulamentação clara e abrangente desde o início, que aborde não apenas os aspetos económicos e medicinais, mas também as preocupações com a saúde pública e a ordem social. À medida que 11 de novembro de 2025 se aproxima, a Tailândia prepara-se para uma nova fase na sua relação com a cannabis, priorizando o controlo e a saúde pública sobre a liberdade de uso recreativo.
A Tailândia deixou de ser um destino “legal” para a cannabis porque o governo decidiu reverter a descriminalização ampla, restringindo o uso apenas ao medicinal, com previsão de recriminalização total do uso recreativo. Isso ocorreu devido a pressões políticas, preocupações sociais e críticas sobre a falta de controle após a abertura do mercado
Referências:
[1] The Diplomat. (2025, June). In Thailand, Recreational Cannabis Use Is Set to Go Up In Smoke. https://thediplomat.com/2025/06/in-thailand-recreational-cannabis-use-is-set-to-go-up-in-smoke/
[2] ITVX. (2025, June 24). Thailand to ban recreational cannabis three years after decriminalisation. https://www.itv.com/news/2025-06-24/thailand-to-ban-recreational-cannabis-three-years-after-decriminalisation
[3] Thai Examiner. (2025, June 25). Cannabis or marijuana again going underground on November 11 2025 after ministers order signed Monday. https://www.thaiexaminer.com/thai-news-foreigners/2025/06/25/cannabis-or-marijuana-again-going-underground-on-november-11-2025-after-ministers-order-signed-monday/
[4] Cannabis Medicinal. (2025, May 21). Tailândia pode voltar atrás na descriminalização da cannabis após aumento de tentativas de contrabando. https://cannabismedicinal.com.br/tailandia-pode-voltar-atras-na-descriminalizacao-da-cannabis-apos-aumento-de-tentativas-de-contrabando/
[5] Portal Mie. (2024, May 10). Maconha na Tailândia: governo quer voltar atrás na liberação. https://portalmie.com/atualidade/2024/05/maconha-na-tailandia-governo-quer-voltar-atras-na-liberacao/
[6] Euronews. (2024, July 11). Tailândia: consumo de canábis continua a ser legal?. https://pt.euronews.com/viagens/2024/07/11/tailandia-consumo-de-canabis-continua-a-ser-legal
[7] DW. (n.d.). Thailand set to U-turn on recreational cannabis use. https://www.dw.com/en/thailand-u-turn-recreational-cannabis/a-72713729
[8] Poder360. (2024, January 19). O que a legalização da cannabis na Tailândia nos ensina. https://www.poder360.com.br/opiniao/o-que-a-legalizacao-da-cannabis-na-tailandia-nos-ensina/
[9] Cannabis e Saúde. (2024, May 13). Tailândia vai voltar a proibir a Cannabis. https://www.cannabisesaude.com.br/tailandia-voltar-a-proibir-cannabis/
[10] Cali Terpenes. (n.d.). Tailândia e a legalização da cannabis: um ano depois
Festival Binóide: Uma Celebração da Cultura Canábica com a Kaya e Smoke Up




"A Loja da Kaya separou 10 exemplares de algo exclusivo da nossa marca para premia-los dentro do Festival Binóide, no dia 29 de Junho, Se eu fosse você não perdia essa oportunidade de levar pra casa um miminho nosso de borla".
Michel Reis
Cannabis Ancestral: Bhang, Creme de Malana e Outros Usos Tradicionais pelo Mundo
A cannabis, uma planta que acompanha a humanidade há milénios, possui uma história rica e multifacetada que transcende o seu uso recreativo contemporâneo. Em diversas culturas ancestrais, a cannabis foi reverenciada como planta sagrada, utilizada em rituais espirituais, cerimónias culturais e como um componente vital da medicina tradicional. Este artigo explora os usos ancestrais da cannabis, com um foco especial nas tradições milenares da Índia – como o Bhang, o Creme de Malana e o Charas – e noutras civilizações que reconheceram o seu valor muito antes da era moderna. Junte-se à Loja da Kaya nesta viagem pelo passado para descobrir o legado cultural e espiritual desta planta extraordinária.
A Cannabis como Planta Sagrada na História da Humanidade
Desde tempos imemoriais, a cannabis tem sido entrelaçada com o desenvolvimento espiritual e cultural de várias civilizações. Evidências arqueológicas e textos antigos revelam que o seu uso não se limitava às suas propriedades psicoativas, mas estendia-se a aplicações medicinais, têxteis e rituais. Na China antiga, há mais de 4700 anos, o imperador Shen Nung, considerado o pai da medicina chinesa, documentou as propriedades terapêuticas da cannabis. No Egito, vestígios da planta foram encontrados em túmulos faraónicos, sugerindo o seu uso em cerimónias fúnebres ou como oferenda. No entanto, é na Índia que encontramos uma das mais profundas e contínuas tradições de veneração e uso da cannabis.
Bhang: A Bebida Sagrada da Índia

O Bhang é, talvez, a preparação de cannabis mais emblemática e culturalmente significativa da Índia. Trata-se de uma pasta feita a partir das folhas e flores da planta de cannabis, que é depois utilizada para criar diversas bebidas e alimentos.
A primeira menção à cannabis na Índia remonta aos Vedas, os textos sagrados do Hinduísmo, datados de aproximadamente 2000 a 1500 a.C. No Atharvaveda, a cannabis (referida como “bhanga“) é listada como uma das cinco plantas sagradas, descrita como uma fonte de alegria, um libertador e um portador de felicidade. Era considerada uma planta que ajudava a aliviar a ansiedade e a promover o bem-estar.

A ligação mais forte do Bhang é com o Deus Shiva, uma das principais divindades do panteão hindu. Shiva é frequentemente retratado como um asceta que consome Bhang para aprofundar a sua meditação e alcançar estados elevados de consciência. Segundo a lenda, Shiva trouxe a cannabis das montanhas do Himalaia para o benefício da humanidade. O consumo de Bhang, especialmente durante festivais dedicados a Shiva, como o Mahashivaratri, é visto como uma forma de honrar o deus e de se conectar com o divino.
Como o Bhang é Preparado Tradicionalmente
A preparação tradicional do Bhang é um processo laborioso. As folhas e flores frescas da cannabis são moídas numa pasta verde com um pilão e almofariz. Esta pasta é depois misturada com leite, ghee (manteiga clarificada) e uma variedade de especiarias como cardamomo, gengibre, pimenta preta e açafrão. A mistura pode ser consumida como uma bebida (Bhang Lassi ou Bhang Thandai) ou incorporada em doces e outros alimentos.
Festivais e Celebrações com Bhang na Cultura Indiana

O Bhang desempenha um papel central em vários festivais indianos, sendo o Holi, o festival das cores, o mais conhecido. Durante o Holi, o consumo de Bhang é generalizado, acreditando-se que intensifica o espírito festivo, promove a camaradagem e quebra barreiras sociais. É uma tradição que une as pessoas na celebração da vida, da alegria e da renovação.
Creme de Malana: O Tesouro do Himalaia

O Bhang desempenha um papel central em vários festivais indianos, sendo o Holi, o festival das cores, o mais conhecido. Durante o Holi, o consumo de Bhang é generalizado, acreditando-se que intensifica o espírito festivo, promove a camaradagem e quebra barreiras sociais. É uma tradição que une as pessoas na celebração da vida, da alegria e da renovação.
A Região de Malana e sua Cultura Única
Malana é uma aldeia ancestral com uma cultura e sistema de governação distintos, que se acredita serem dos mais antigos do mundo. Os habitantes de Malana, os Malanis, consideram-se descendentes de Alexandre, o Grande, e mantêm tradições e um dialeto únicos, o Kanashi, que não é falado em mais nenhum lugar.
Técnicas Tradicionais de Colheita e Processamento
O Creme de Malana é um tipo de charas (haxixe esfregado à mão) conhecido pela sua alta concentração de THC e aroma distinto. A técnica tradicional de produção envolve esfregar as flores frescas da planta de cannabis viva entre as palmas das mãos. Este processo lento e meticuloso faz com que a resina da planta adira às mãos, formando uma pasta espessa e pegajosa. Esta resina é depois raspada e moldada em bolas ou bastões. A qualidade do Creme de Malana é atribuída às condições climáticas únicas da região e às variedades de cannabis locais.
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Qualidades Especiais do Creme de Malana
O Creme de Malana é famoso pela sua textura macia, quase amanteigada, e pelo seu aroma complexo, que pode incluir notas de pinho, frutas e especiarias. O seu elevado teor de óleo e resina contribui para a sua potência e reputação como um produto de luxo no mercado global de cannabis.
Significado Cultural e Económico para as Comunidades Locais
Para a comunidade de Malana, o cultivo de cannabis e a produção de charas têm sido, historicamente, uma importante fonte de rendimento. Embora a produção e venda sejam ilegais sob a lei indiana, a tradição persiste devido ao isolamento da região e à dependência económica desta atividade. No entanto, esta prática também trouxe desafios, incluindo a pressão das autoridades e o impacto do turismo.
Charas: A Arte Milenar do Haxixe Indiano
Diferentes Tipos de Charas na Índia
O Processo Artesanal de Produção
Usos Tradicionais e Significado Cultural
Cannabis na Medicina Ayurvédica
Princípios Ayurvédicos e Cannabis
Preparações Medicinais Tradicionais
Tratamentos Ancestrais e sua Relevância Contemporânea
ConsideraçõesCulturais e Legais
Conclusão: Honrando o Conhecimento Ancestral
Recursos Online e Bases de Dados
THCP, THC e HHC: Desvendando as Diferenças entre Canabinóides
A planta Cannabis sativa L. é uma fonte extraordinariamente rica de compostos químicos, com mais de 150 canabinóides identificados até à data. Estes compostos interagem de formas complexas com o sistema endocanabinóide humano, influenciando uma vasta gama de processos fisiológicos. Entre os canabinóides mais conhecidos está o delta-9-tetrahidrocanabinol (THC), o principal responsável pelos efeitos psicoativos associados à canábis. No entanto, a investigação científica continua a desvendar novos compostos e a aprofundar o conhecimento sobre os já existentes, revelando um panorama muito mais diversificado e complexo.
Este artigo propõe-se a explorar em detalhe as características distintivas destes três canabinóides. Analisaremos as suas estruturas químicas, os mecanismos de ação no sistema endocanabinóide, os efeitos fisiológicos e psicoativos, a potência relativa, o estado atual da investigação científica e o complexo enquadramento legal em Portugal e na Europa. O objetivo é fornecer uma visão clara, educativa e baseada em evidências científicas, desmistificando estes compostos e promovendo uma compreensão mais profunda das suas implicações para a saúde, a ciência e a sociedade.
Perfis Químicos e Estruturais
As diferenças nos efeitos e na potência entre THC, THCP e HHC começam ao nível molecular. A estrutura química de cada canabinóide determina como ele interage com os recetores do sistema endocanabinóide e, consequentemente, os seus efeitos no organismo.

Estrutura Molecular do THC
O delta-9-tetrahidrocanabinol (Δ⁹-THC) é o canabinóide psicoativo mais abundante e estudado da planta Cannabis sativa L. A sua fórmula química é C₂₁H₃₀O₂. A estrutura do THC é caracterizada por um sistema de três anéis (um anel aromático, um anel ciclohexeno e um anel pirano) e uma cadeia lateral alquílica ligada ao anel aromático. No THC mais comum, esta cadeia lateral é composta por cinco átomos de carbono (cadeia pentil).
A presença de uma ligação dupla específica no anel ciclohexeno (na posição delta-9) é crucial para a sua interação com os recetores canabinóides, particularmente o CB1, e é a principal responsável pelos seus efeitos psicoativos. A estereoquímica da molécula, especificamente a configuração (-)-trans, também é importante para a sua atividade biológica.
Estrutura Molecular do THCP
O tetrahidrocanabiforal (THCP), especificamente o (-)-trans-Δ⁹-tetrahidrocanabiforal (Δ⁹-THCP), foi isolado e identificado pela primeira vez em 2019 por uma equipa de investigadores italianos a partir de uma variedade de canábis medicinal (FM2). A sua descoberta foi significativa porque revelou a existência natural de um homólogo do THC com uma cadeia lateral alquílica mais longa.
A estrutura do THCP é muito semelhante à do THC, partilhando o mesmo núcleo tricíclico. A diferença fundamental reside na cadeia lateral alquílica: em vez da cadeia pentil (5 carbonos) do THC, o THCP possui uma cadeia heptil (7 carbonos). A sua fórmula química é C₂₃H₃₄O₂. Esta extensão da cadeia lateral é a chave para a sua interação potencialmente mais forte com os recetores canabinóides, como discutiremos mais adiante. A descoberta do THCP ocorreu em paralelo com a do seu análogo não-psicoativo, o canabidiforal (CBDP), que possui a mesma cadeia heptil mas a estrutura base do CBD.
Estrutura Molecular do HHC
O hexahidrocanabinol (HHC) difere do THC e do THCP de uma forma mais fundamental. Enquanto THC e THCP são fitocanabinóides naturais (embora o THCP ocorra em concentrações muito baixas), o HHC é geralmente considerado um canabinóide semi-sintético, embora possa ocorrer em vestígios na planta. É produzido através da hidrogenação do THC (ou de CBD previamente convertido em THC). A hidrogenação é um processo químico que adiciona átomos de hidrogénio à molécula, quebrando as ligações duplas.
No caso do HHC, a ligação dupla no anel ciclohexeno do THC é saturada. Esta saturação resulta numa molécula quimicamente mais estável, menos suscetível à oxidação e degradação pela luz UV e calor, conferindo-lhe um prazo de validade potencialmente mais longo. A fórmula química do HHC é C₂₁H₃₂O₂.
Um aspeto crucial do HHC é o seu isomerismo. Durante o processo de hidrogenação, formam-se dois diastereómeros principais devido à criação de um novo centro quiral na posição 9: o 9R-HHC e o 9S-HHC. Estes isómeros têm a mesma fórmula química mas diferentes arranjos espaciais, o que resulta em diferentes afinidades de ligação aos recetores canabinóides. Tipicamente, o 9R-HHC é considerado o isómero mais ativo, com afinidade semelhante à do THC, enquanto o 9S-HHC é significativamente menos potente.

Esta análise estrutural revela que, embora partilhem um núcleo comum (exceto pela saturação no HHC), as variações na cadeia lateral (THC vs. THCP) e a saturação do anel (THC/THCP vs. HHC) são as diferenças químicas fundamentais que ditam as suas distintas interações biológicas e perfis de efeitos.
Mecanismos de Ação no Sistema Endocanabinóide
Para compreender como o THCP, THC e HHC afetam o organismo humano, é essencial conhecer o sistema com o qual interagem: o sistema endocanabinóide. As diferenças na forma como cada um destes canabinóides se liga aos recetores deste sistema explicam grande parte das suas variações em potência e efeitos.
Brevemente sobre o sistema Endocanabinóide:
O sistema endocanabinóide (SEC) é uma complexa rede de sinalização celular presente em todos os vertebrados. Foi descoberto na década de 1990, durante investigações sobre o mecanismo de ação do THC. Este sistema desempenha um papel crucial na regulação de numerosos processos fisiológicos, incluindo humor, memória, apetite, perceção da dor, função imunitária, metabolismo e ciclos de sono.
Os principais componentes do sistema endocanabinóide são:
1.Recetores canabinóides: Principalmente o CB1 e o CB2. Os recetores CB1 encontram-se predominantemente no sistema nervoso central (cérebro e medula espinal), embora também estejam presentes em alguns tecidos periféricos. Os recetores CB2 localizam-se principalmente no sistema imunitário e em tecidos periféricos, com expressão limitada no sistema nervoso central.
2. Endocanabinóides: Moléculas produzidas naturalmente pelo corpo que atuam como ligandos dos recetores canabinóides. Os dois principais são a anandamida (N-araquidonoiletanolamina ou AEA) e o 2-araquidonoilglicerol (2-AG).
3. Enzimas: Responsáveis pela síntese e degradação dos endocanabinóides. As principais são a FAAH (amida hidrolase de ácidos gordos), que degrada a anandamida, e a MAGL (monoacilglicerol lipase), que degrada o 2-AG.
O THC é um agonista parcial dos recetores CB1 e CB2, o que significa que se liga a estes recetores e os ativa, mas não com a eficácia máxima possível. A sua afinidade de ligação é moderada, com valores de Ki (constante de inibição, que indica a afinidade de ligação) tipicamente na faixa de 5-80 nM para o recetor CB1, dependendo das condições experimentais.
A ligação do THC ao recetor CB1 é responsável pelos seus efeitos psicoativos. Quando o THC se liga a este recetor no cérebro, desencadeia uma cascata de sinalização intracelular que altera a libertação de vários neurotransmissores, incluindo dopamina, glutamato e GABA. Estas alterações na neurotransmissão manifestam-se como os efeitos psicoativos e fisiológicos característicos do THC.
A interação do THC com os recetores CB2 contribui para alguns dos seus efeitos anti-inflamatórios e imunomoduladores, embora a sua afinidade por estes recetores seja geralmente menor do que pelos recetores CB1.
Interação do HHC com Recetores Canabinóides
A interação do HHC com os recetores canabinóides é complexa devido à presença dos seus dois principais diastereómeros: 9R-HHC e 9S-HHC. Estudos farmacológicos indicam que:
•O 9R-HHC demonstra uma afinidade de ligação relativamente alta pelos recetores CB1, com valores de Ki aproximadamente de 15 nM, o que o coloca numa potência semelhante à do THC, embora ligeiramente superior. A sua afinidade pelos recetores CB2 é semelhante, cerca de 13 nM.
•O 9S-HHC, por outro lado, apresenta uma afinidade significativamente menor, aproximadamente 10 vezes inferior à do seu isómero 9R. Esta diferença dramática na afinidade de ligação destaca a importância da estereoquímica na interação com os recetores canabinóides.
A saturação da ligação dupla no anel ciclohexeno do HHC altera subtilmente a conformação tridimensional da molécula em comparação com o THC, o que pode afetar a forma como se encaixa no local de ligação do recetor. No entanto, a manutenção da cadeia lateral pentil (5 carbonos) significa que o HHC não atinge a potência do THCP.

Efeitos Fisiológicos e Psicoativos
Os efeitos dos canabinóides no organismo humano são o resultado direto das suas interações com o sistema endocanabinóide, particularmente com os recetores CB1 no sistema nervoso central. As diferenças estruturais e de afinidade entre THCP, THC e HHC traduzem-se em perfis de efeitos distintos, tanto em termos de potência como de qualidade subjetiva.
Efeitos do THC
O delta-9-THC produz uma gama bem documentada de efeitos psicoativos e fisiológicos, que variam em intensidade dependendo da dose, via de administração, tolerância individual e fatores contextuais.
Efeitos do THCP
Efeitos do HHC

À medida que compostos como THCP, HHC e CBD se tornam mais populares no mercado legal de cânhamo industrial em Portugal, é fundamental partilhar informações claras e baseadas em evidências sobre a segurança, os riscos e as boas práticas de utilização. Estes canabinóides apresentam perfis distintos que devem ser compreendidos antes do uso.
Perfis de Segurança
O THC é o canabinóide mais estudado. Apesar dos seus efeitos psicoativos, apresenta toxicidade aguda extremamente baixa. No entanto, pode causar ansiedade, boca seca, olhos vermelhos e impacto temporário na cognição. Utilizadores regulares devem estar atentos ao risco de dependência e efeitos mais pronunciados em adolescentes ou pessoas com condições psiquiátricas.
O THCP, uma versão mais potente do THC, tem alta afinidade pelos recetores CB1. A sua janela terapêutica é mais estreita e o risco de efeitos adversos com pequenas doses é maior. Por ser recente, os seus efeitos a longo prazo ainda não são bem compreendidos.
O HHC, uma molécula hidrogenada derivada do THC, apresenta características intermédias. É considerado seguro em doses moderadas, mas há preocupações com a sua produção industrial, especialmente se não forem eliminados resíduos de catalisadores. A variabilidade entre lotes também pode afetar a previsibilidade dos seus efeitos.
O CBD, por sua vez, é um canabinóide não psicoativo amplamente estudado. É bem tolerado, não viciante e tem aplicação terapêutica reconhecida. Pode, no entanto, interagir com medicamentos metabolizados pelo fígado, como anticoagulantes ou antidepressivos.
Recomendações de Uso Consciente
Em qualquer uso, é essencial começar com doses baixas e ir aumentando apenas se necessário. A origem dos produtos deve ser verificada e preferencialmente acompanhada de análises laboratoriais. Utilizar em ambientes calmos, evitar misturar com álcool ou outras substâncias e respeitar os próprios limites são práticas que promovem segurança.
Pessoas com doenças cardíacas, perturbações psiquiátricas ou grávidas devem evitar o uso destes compostos. Quem toma medicamentos regularmente deve procurar aconselhamento médico antes de experimentar canabinóides.
Educação e Literacia Canábica
Informar-se através de fontes científicas é essencial para distinguir entre canabinóides naturais, sintéticos ou semi-sintéticos. Muitos produtos etiquetados de forma genérica como cânhamo ou extrato de planta podem conter compostos com potências bastante diferentes. Entender estas diferenças reduz riscos e evita surpresas desagradáveis.
O uso responsável inclui conhecer os limites do corpo, evitar exageros e optar sempre por produtos certificados, sem contaminantes ou aditivos. A redução de danos passa pela moderação e pelo acesso à informação transparente.
Populações Mais Sensíveis
Adolescentes, idosos, pessoas com doenças crónicas ou histórico de dependência podem apresentar maior sensibilidade aos efeitos dos canabinóides. Nesses casos, é ainda mais importante manter acompanhamento profissional, utilizar com cautela e priorizar compostos com baixo impacto psicoativo, como o CBD.
Enquadramento Legal e Transparência
Todos os produtos da Kaya são elaborados com cânhamo industrial certificado, em conformidade com os regulamentos da União Europeia, respeitando o limite legal de THC inferior a 0,2 por cento. As nossas flores, pre-rolls, óleos e extratos são vendidos como artigos de coleção, uso externo ou aromáticos, sempre com rotulagem clara e certificados de qualidade.
Conclusão
A exploração das diferenças entre THCP, THC e HHC revela a extraordinária
complexidade e diversidade do mundo dos canabinóides. O que começou com a
identificação do THC na década de 1960 evoluiu para um campo científico sofisticado
que continua a revelar novos compostos e mecanismos de ação.
O THCP, com a sua cadeia lateral estendida e potência significativamente maior,
representa um avanço importante na nossa compreensão de como pequenas alterações
estruturais podem ter impactos profundos na atividade biológica. A sua descoberta
levanta questões intrigantes sobre o papel que este canabinóide potente, embora
presente em baixas concentrações, pode desempenhar nos efeitos da planta de canábis.
O HHC, com a sua estrutura hidrogenada e maior estabilidade, oferece perspetivas
interessantes sobre como modificações químicas podem alterar não apenas a potência,
mas também propriedades fundamentais como estabilidade e metabolismo. O seu perfil
de isómeros destaca a importância da estereoquímica na atividade dos canabinóides.
Estas descobertas têm implicações significativas tanto para a investigação científica
como para aplicações práticas. Do ponto de vista terapêutico, a compreensão mais
profunda destes compostos pode levar a medicamentos mais eficazes e específicos. Do
ponto de vista da saúde pública, o conhecimento sobre canabinóides de alta potência
como o THCP é essencial para informar políticas de redução de danos e educação.
O enquadramento legal destes compostos permanece complexo e em evolução,
refletindo os desafios de regular uma área onde as descobertas científicas
frequentemente ultrapassam o ritmo da legislação. Em Portugal, como em muitos
outros países, existe uma necessidade crescente de abordagens regulatórias baseadas
em evidências que reconheçam tanto o potencial terapêutico como os riscos destes
compostos.
À medida que avançamos, é essencial que a investigação científica, as políticas públicas
e a educação evoluam em conjunto. A descoberta de canabinóides como o THCP e o
crescente interesse em compostos como o HHC não são apenas curiosidades científicas,
mas representam oportunidades para aprofundar nossa compreensão do sistema
endocanabinóide e desenvolver novas abordagens terapêuticas.
Para o público em geral, e particularmente para aqueles interessados nos potenciais
benefícios terapêuticos ou riscos destes compostos, o acesso a informações precisas,
baseadas em evidências e livres de preconceitos é fundamental. Este artigo procurou
contribuir para esse objetivo, fornecendo uma análise detalhada e equilibrada das
diferenças entre THCP, THC e HHC, baseada no conhecimento científico atual.
À medida que este campo continua a evoluir, permanece claro que estamos apenas a
começar a desvendar os mistérios e o potencial dos canabinóides. O futuro promete
novas descobertas, desafios e oportunidades nesta fascinante interseção entre
botânica, química, farmacologia e medicina.

Referências
- Citti et al., Scientific Reports (2019)
- Adams et al., JACS (1940)
- Pertwee, British Journal of Pharmacology (2008)
- Hanus et al., Natural Product Reports (2016)
- Bow & Rimoldi, Perspectives in Medicinal Chemistry (2016)
- Mechoulam & Parker, Annual Review of Psychology (2013)
- Linciano et al., Journal of Natural Products (2020)
- Russo, British Journal of Pharmacology (2011)
- Morales et al., Progress in the Chemistry of Organic Natural Products (2017)
- Volkow et al., NEJM (2014)
- Lei n.º 33/2018 – Diário da República
- Decreto-Lei n.º 8/2019 – Diário da República
- INFARMED – Canábis Medicinal
- EMCDDA – Cannabis Policy
- Xabregas, CannaReporter (2025)

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A Conexão entre Cânhamo e Festividades Tradicionais

> Como Participar do São João da Kaya 2025
Abaixo podes se inscrever para participar da oficina de produção de chapéu para o São João - Dedicado a Cultura do Amazonas e ao Boi Bumbá - Contacão de Estórias e troca de saberes do Amazonas.


"O São João da Kaya representa mais do que uma simples festa; é uma celebração da rica herança cultural que une Portugal e Brasil, um espaço de encontro entre tradição e inovação, e uma oportunidade para redescobrir conexões históricas muitas vezes esquecidas. Venha fazer parte desta experiência única e deixe-se envolver pela magia do São João luso-brasileiro! Este artigo foi produzido pela equipa da Loja da Kaya, comprometida com a promoção da cultura, sustentabilidade e uso consciente do cânhamo".